25 julho 2010

Casa-castelo-com-uma-lixeira-nas-traseiras


Há um fenómeno curioso: todos nós, por vezes inconscientemente, temos notícias que gostamos mais de ler ou ver na TV do que outras. OK, isto à partida parece ridiculamente óbvio, mas não me estou a referir às boas e más notícias.
Eu explico: eu, por exemplo, não gosto de notícias de acidentes de automóveis. E não é só por pena pelas vidas que aí se possam perder: simplesmente essas reportagens são aborrecidas. É algo tão rotineiro que já nem me desperta interesse. E quando começam a fazer directos daquelas salas cheias de ecrãs com imagens das auto-estadas e um senhor da Brigada de Trânsito (geralmente com bigode) a dizer que vai haver muito tráfego para o Algarve porque entramos numa nova quinzena, aí então mudo logo de canal, não há pachorra.
Por vezes este fenómeno chega a ser macabro, quando o público é uma espécie de vampiro sedento de sangue, ou melhor, de notícias sangrentas. Veja-se o caso de que se tem falado nos últimos dias, do serial-killer de Torres Vedras. As pessoas gostam de notícias assim. Quer dizer, não gostam que haja assassinatos, mas gostam das notícias.


Pessoalmente, a mim aborrecem-me um bocado, principalmente com os inúmeros directos da "casa-castelo-com-uma-lixeira-nas-traseiras" do acusado ou as imagens de várias pessoas a chamar "assassino" ao sucateiro mas que se calhar foram na semana passada a casa dele oferecer-lhe ovos ou um pãozinho caseiro. Sim, porque também nunca faltam as reportagens com os vizinhos do criminoso a dizer que ele era uma pessoa excepcional. Num mundo onde cada vez mais os vizinhos não se conhecem, se tiverem vizinhos simpáticos, fiquem com um pé atrás.
Voltando às preferências na informação, e recorrendo a uma série de estereótipos desactualizados podemos então afirmar que as mulheres mudam de canal nas notícias de desporto, e que os menos instruídos mudam de canal nas notícias de política ou economia (eu avisei que podiam não corresponder à verdade). É por isso que defendo que os canais de notícias deviam criar jornais temáticos. Enquanto a RTPN dava o "Jornal do PS [e dos outros partidos, se houver tempo]", a SIC Notícias dava o "Jornal do Benfica [e dos outros clubes, se houver tempo]" e o TVI 24 dava o "Jornal de Assassinatos, Tiroteios, Assaltos, Sequestros e dos últimos concertos dos D'ZRT".

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