12 dezembro 2010

Contra-Informação despede-se com "amor" e malfeitorias

Chegou ao fim. Catorze anos, 170 bonecos. Terminou quinta-feira o Contra-Informação, o único programa de sátira política da televisão em Portugal. Para o desfecho uma história de amor com final feliz: José e Aníbal.


Os bonecos de Sócrates, Oliveira Martins e Silva Pereira marcam um momento hilariante sobre as famosas consultorias ou "malfeitorias", como escapa ao socrático. Trocas-te, pressionado pelos números apresentados pelo presidente do Tribunal de Contas, pede ao ministro que encomende uma consultoria para ver o que se passa de errado nas consultorias - "Gasta o que for preciso, temos de limitar os gastos." Afirma Pereira já fez o ajuste directo "com a consultora do costume" e Trocas-te pede-lhe que faça outra consultoria à consultoria que pediu. Oliveira Martins não tem dúvidas: "O FMI vai entrar em Portugal por ajuste directo."

A José e Pilar segue-se agora, do mesmo realizador, José e Aníbal - "dois destinos, uma estratégia". Um Regressado Silva profundamente comprometido com o fim do monstro e obcecado com a cooperação estratégica, um José Trocas-te implorando por um pequeno aumento de impostos sobre os combustíveis ou nas contribuições para a Segurança Social. Os diálogos entre ambos revelam uma "história de amor pelo poder". José atira a Aníbal: "Aquilo é que foi espatifar dinheiros europeus, eram auto-estradas, IP..." Regressado Silva confessa: "Por isso eu no fundo gosto de ti, meu bom rapaz, fazes-me lembrar a mim quando era mais novo, mas sem dinheiro." "Tu não vais votar no Manuel Triste, pois não?", pergunta, curioso, Regressado. "Achas?!", responde-lhe José.

Na hora da despedida Santana Flopes chora, o professor Martelo não tinha um desgosto tão grande desde que Santana era primeiro-ministro, Boca Guedes promete voltar com a sua "cara de boneca" noutra estação televisiva e Kampião Félix acha que o fim é "um caso sério de censura".

Todos querem o boneco no Panteão Nacional. Mário Só Ares porque colocou Portugal na UE, foi o primeiro a chamar o FMI e pelo caminho ainda foi Presidente da República. Mas deitado ao lado de Aquilino Ribeiro quer ficar Manuel Triste - "A mim ninguém me cala!". Trocas-te acredita que consegue lugar no monumento, porque "como se sabe" é muito determinado e o "porreiro, pá" não faltou na festa de despedida. Mas Aníbal conta para o efeito com o patrocínio do Banco Português de Negociatas, através de um offshore em Porto Rico. Barraca Abana conclui que "Portugal é um país fácil para ser boneco" e entra na disputa pelo "Panteãozinho", agora que as "broncas" da sua administração já não lhe garantem um lugar em Washington.

No final, fica prometida a nona comissão de inquérito ao fim do Contra-Informação - cujos programas antigos podem ser vistos no site da RTP.

Público

25 julho 2010

Casa-castelo-com-uma-lixeira-nas-traseiras


Há um fenómeno curioso: todos nós, por vezes inconscientemente, temos notícias que gostamos mais de ler ou ver na TV do que outras. OK, isto à partida parece ridiculamente óbvio, mas não me estou a referir às boas e más notícias.
Eu explico: eu, por exemplo, não gosto de notícias de acidentes de automóveis. E não é só por pena pelas vidas que aí se possam perder: simplesmente essas reportagens são aborrecidas. É algo tão rotineiro que já nem me desperta interesse. E quando começam a fazer directos daquelas salas cheias de ecrãs com imagens das auto-estadas e um senhor da Brigada de Trânsito (geralmente com bigode) a dizer que vai haver muito tráfego para o Algarve porque entramos numa nova quinzena, aí então mudo logo de canal, não há pachorra.
Por vezes este fenómeno chega a ser macabro, quando o público é uma espécie de vampiro sedento de sangue, ou melhor, de notícias sangrentas. Veja-se o caso de que se tem falado nos últimos dias, do serial-killer de Torres Vedras. As pessoas gostam de notícias assim. Quer dizer, não gostam que haja assassinatos, mas gostam das notícias.


Pessoalmente, a mim aborrecem-me um bocado, principalmente com os inúmeros directos da "casa-castelo-com-uma-lixeira-nas-traseiras" do acusado ou as imagens de várias pessoas a chamar "assassino" ao sucateiro mas que se calhar foram na semana passada a casa dele oferecer-lhe ovos ou um pãozinho caseiro. Sim, porque também nunca faltam as reportagens com os vizinhos do criminoso a dizer que ele era uma pessoa excepcional. Num mundo onde cada vez mais os vizinhos não se conhecem, se tiverem vizinhos simpáticos, fiquem com um pé atrás.
Voltando às preferências na informação, e recorrendo a uma série de estereótipos desactualizados podemos então afirmar que as mulheres mudam de canal nas notícias de desporto, e que os menos instruídos mudam de canal nas notícias de política ou economia (eu avisei que podiam não corresponder à verdade). É por isso que defendo que os canais de notícias deviam criar jornais temáticos. Enquanto a RTPN dava o "Jornal do PS [e dos outros partidos, se houver tempo]", a SIC Notícias dava o "Jornal do Benfica [e dos outros clubes, se houver tempo]" e o TVI 24 dava o "Jornal de Assassinatos, Tiroteios, Assaltos, Sequestros e dos últimos concertos dos D'ZRT".

01 julho 2010

Violinos no Telhado



Pinto Ferreira - Violinos no Telhado

05 fevereiro 2010

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